Nesta quinta-feira (3), dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) constatam que o Produto Interno Bruto, o PIB do Brasil cresceu 7,7% no terceiro trimestre de 2020.
O número é expressivo em comparação aos outros dois trimestres. No segundo trimestre a queda apresentada era de 9,6%. Mesmo retirando o país da chamada “recessão técnica”, a alta não foi suficiente para recuperar os rombos causados pela pandemia.
O grande aumento do PIB é o maior desde o início da série histórica pelo IBGE, em 1996. Até então, o recorde pertencia ao 3º trimestre de 1996, quando o crescimento foi de 4,3%. De qualquer modo, em uma comparação anual pode-se notar que o valor continua menor do que já visto.
Indústria e comércio foram os destaques de recuperação
O número, mesmo que alto, ainda não foi o estimado por instituições financeiras e consultorias. Um levantamento do Valor Econômico esperava um crescimento de 8,8% em relação ao trimestre anterior.
Os destaques em recuperação foram a indústria e o comércio, estes que cresceram 14,8% e 15,9%, respectivamente. Ainda, a chamada indústria de transformação teve 23,7% de melhoria. Em comparação interanual, tanto a indústria e como os serviços ainda estão caindo.
Rebeca Palis, coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, afirmou que mesmo que a agropecuária tenha caído neste trimestre (-0,5%), este ainda é o único setor que está em crescimento anualmente falando.
Serviços é o nicho mais afetado
O setor de serviços cresceu 6,3% no trimestre, número que não foi suficiente para recuperar o seu déficit do trimestre passado quando apresentou a queda de 9,4%. Somente o setor de serviços representa mais de 70% do PIB nacional.
O campo ainda é o que mais emprega no Brasil. De longe é o setor mais afetado pela pandemia, pois os serviços geralmente são ministrados com mobilidade e aglomerações. As atividades mais atingidas são hotéis, bares, cinemas, restaurantes, educação privada e o lazer em geral.
Palis ressaltou que mesmo que a maioria das atividades já estejam liberadas, as pessoas ainda estão receosas para consumir produtos como alimentação, cinemas, salões de beleza e outros.
Agronegócio apresentou queda mas segue estável e em crescimento
Em outra análise, a queda que a agricultura sofreu não é incomum, visto que o setor continua em crescimento. Segundo Palis, o número negativo foi por conta de um ajuste de safra, como a sazonalidade da soja. A soja, como colocado pela profissional, é a maior lavoura do Brasil.
Já a economista do Ibre/FGV, Luana Miranda, acredita que o número abaixo do esperado deve-se à uma ligeira queda na venda de carne bovina, aves e leite. De qualquer modo, o agronegócio se sustenta pela grande sagra, a valorização nos preços das commodities agrícolas e o valor alto do dólar que favorece os exportadores.
O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) visualiza um bom futuro para a agropecuária. As previsões são de crescimento no PIB de 1,5 em 2020 e de 1,2% em 2021.
Incentivos como o Auxílio Emergencial foram os principais responsáveis pela alta
Economistas acreditam que a expressiva reação do PIB foi causada, em maioria, pelos investimentos do Governo Federal nos auxílios emergenciais e em formas de transferência de renda. Os resultados não são destoantes dos de outros países.
Os países que fazem parte da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a alta no 3º trimestre foi de 9%. Em uma lista da Austing Rating, que classifica o PIB de 51 países, o brasileiro ficou em 25º lugar, uma posição à frente dos Estados Unidos.
Paulo Guedes, ministro da Economia, disse que tudo indica que a economia do país se reestruturará em formato de “V”. Contudo, espera-se que ocorra uma perda de ritmo nos próximos três meses, visto que os estímulos, como o Auxílio Emergencial, devem ser reduzidos ou finalizados.
Previsões internacionais indicam crescimento menor do que o mundial para o Brasil
Os analistas de economia apontam uma retração de 4,50% no PIB brasileiro ainda em 2020. Embora com um resultado menos negativo do que o esperado, o número ainda deve ser o pior já ocorrido no país. De acordo com o IBGE, as maiores quedas até então foram dos anos de 1981 e 1990, quando houveram retrações de 4,35 nas duas situações.
Estima-se que em 2021, o PIB deve crescer 3,45%. Os estudiosos ainda acreditam que, caso os avanços atuais se mantenham, a retomada da economia para como ela estava antes da pandemia deve ocorrer apenas em 2022.
A ODCE é menos otimista e prevê um crescimento na economia brasileira de apenas 2,6% em 2021. A organização estabeleceu uma média global para 2021 de 4,2%.