A tensão no Governo Federal não para. Desde que assumiu a presidência, Jair Bolsonaro acumula um histórico de troca de lideranças políticas. As demissões geram desgaste no governo e reforçam a tendência de manter aliados ao mesmo posicionamento do presidente e benefícios para seu cargo.
No caso recente da demissão de Mandetta, a demissão se deu pelas divergências entres os dois mesmo o ministro possuindo 76% de aprovação. Menos de 10 dias depois, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, também anunciou a sua própria demissão. Ambos declararam dificuldades em trabalhar no governo Bolsonaro.
Da mesma forma que Mandetta, Moro também se viu pressionado diante de decisões do presidente. Neste caso, foi a troca da diretoria-geral da Polícia Federal que incentivou Moro e gerou reações contundentes do ministro. Ele afirmou que Bolsonaro havia dado autonomia para atuar e na prática, isso não aconteceu.
Saiba mais sobre a demissão de Sérgio Moro.
De juiz da Lava Jato a ministro de Bolsonaro
O ministro entrou no Governo Federal após ser aclamado por sua atuação como juiz na Operação Lava Jato. Moro foi considerado um “superministro” e algum tempo depois foi perdendo autonomia. Moro, assim como Luiz Henrique Mandetta também possuía opinião contrária ao do presidente no que diz respeito ao isolamento social.
Dessa forma, Moro se aliou a parte do governo que não defendia a abertura do comércio e se opunha ao fim do isolamento defendido de maneira veemente por Bolsonaro. Mas, não foi essa a única justificativa a sua saída. O estopim do caso foi a demissão de Maurício Valeixo.
Ao aceitar o convite do presidente para fazer parte do governo em 2018, Moro apresentou dificuldade em assumir o cargo como uma posição política, mas sofreu as consequências de uma. Saiba mais sobre a trajetória de Sérgio Moro de juiz a ministro do governo Bolsonaro.
A saída de Sérgio Moro do governo
Em entrevista nesta sexta-feira (24), Moro disse que iria pedir demissão dado a exoneração de Maurício Valeixo, diretor-geral da Polícia Federal que foi apadrinhado pelo ministro. “No futuro, vou começar a empacotar as minhas coisas e vou providenciar aqui o encaminhamento da minha carta de demissão” disse.
Um ponto em comum entre a saída de Moro e Mandetta é que ambos afirmaram se sentir impedidos de trabalhar no governo Bolsonaro. “Eu, infelizmente, não tenho como persistir com o compromisso que assumi sem que eu tenha condições de trabalhar” disse.
No caso de moro, o motivo foi o que ele considerou como“interferência política” na troca do diretor-geral da PF. Ele afirmou que não continuará no cargo sem ter condições de preservar a autonomia da Polícia para realizar seu trabalho e disse que a atitude trará resultados imprevisíveis.
Porque Maurício Valexo foi demitido
No cenário, já era eminente que isso aconteceria. Bolsonaro tenta retirar Maurício Valeixo da diretoria geral da Polícia Federal desde 2019. Havia uma movimentação que visava um acordo sem sucesso nos bastidores entre Moro e o presidente. Sobre a demissão, Moro disse que Bolsonaro gostaria de uma “pessoa do contato pessoal” dele.
Na justificativa de Bolsonaro, Moro afirmou que a intenção seria ter o relacionamento com o diretor-geral de telefonar e colher relatórios da Polícia Federal. Sobre isso, Moro lamentou dizendo que este não é o papel da Polícia Federal, pois as investigações devem ser reservadas.
Outro fator que ronda a demissão de Maurício Valeixo é a investigação iniciada nesta semana sobre a manifestação de domingo (19) que Bolsonaro participou e discursou no ato para apoiadores do governo que pediam a volta da ditadura e golpe militar. Outro indício seriam as investigações que Flavio Bolsonaro vem sofrendo. Até o momento Bolsonaro apenas informou nas redes sociais que fará uma coletiva para “restabelecer a verdade” sobre a demissão de Valeixo e Moro.
Erro no Diário Oficial
O detalhe da decisão política é que no Diário Oficial consta a exoneração de Valeixo por pedido do próprio servidor e assinatura eletrônica de Sérgio Moro. Segundo Moro, ambos foram pegos de surpresa ainda de madrugada.
Moro não foi avisado com antecedência e Valeixo não pediu para sair. O ministro disse que o diretor-geral recebeu apenas uma ligação dizendo que a exoneração sairia e que ele apenas foi perguntado se concordava com sua saída.
Sobre isso, Valeixo se perguntou como iria concordar com alguma coisa. Concordando ou não, o anúncio veio no Diário Oficial desta manhã dizendo que Valeixo havia pedido a sua saída. “Sinceramente, fui surpreendido. Achei que isso foi ofensivo” disse Moro. Saiba mais sobre o que Moro afirmou na entrevista.